Biologia Marinha Pokémon: Do Litoral à Zona Abissal

Por lyd e TMan87. Traduzido por Bandkrook. Publicado em 02/03/2019.
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Introdução

Art by Cretacerus

Arte por Cretacerus.

TMan87:
Bem-vindo a mais uma edição de Biologia Pokémon! Eu sou TMan87 e junto de meu companheiro biólogo Lyd, outro grande expert nesse campo, vamos iluminar um pouco esse mundo intimidador e estrangeiro. Bem-vindo à Pokébiologia Marinha!

O mar é um bioma sem igual: a maioria dos seres vivos têm a opção de se movimentar em três dimensões, o que aumenta muito seu leque de estratégias quando se trata de caçar e se esconder. E, mesmo assim, mergulhar nesse reino irá lhe permitir observar um bocado de evoluções adaptativas e táticas únicas de cada espécie! O mar é um mundo brutal e as criaturas que o habitam podem ser tão cruéis quanto…

Litoral

Mareanie

Mareanie

TMan87: Mareanie pode parecer inofensiva e engraçada, mas não deixe que isso te engane: é um predador que assombra a costa de Alola, buscando por sua refeição favorita: Corsola. Não se sabe ao certo o porquê de sua busca incansável pelo seu coral para sua alimentação (com ou sem Corsola no fim), mas pode ser devido ao fato de materiais resistentes como cálcio serem ótimos atributos para a carapaça de Mareanie (e mais tarde, a de Toxapex) endurecer. Porém, sua mobilidade não é das melhores, já que tem apenas um “pé”, o que geralmente a faz evitar águas mais fundas, onde predadores são mais ferozes e provavelmente já totalmente evoluídos, uma gangue das quais a pobrezinha não teria chance contra.

Deste modo, Mareanie também tem seu predador: Bruxish. Seu exterior duro e espinhos venenosos não são nada perto do poder absurdo da mandíbula de Bruxish e por isso são encontrados comumente perto da costa ao invés de águas mais fundas. A ideia de que Bruxish ganhou o tipo Psychic através de evolução adaptativa para se manter uma ameaça ainda maior para Mareanie e Toxapex é muito debatida. Alguns defendem que tudo que ele precisa é de sua dentição e que isso já faz um trabalho excelente, enquanto outros dizem que usar Psychic é uma ótima ferramenta para capturar Mareanie que estariam fora da água, inalcançáveis para um Pokémon morfologicamente orientado a espaços aquáticos.

Mas não percamos Mareanie de vista. Sua expressão melancólica e movimentos lentos escondem um dos métodos mais cruéis de predação do reino animal. Este Pokémon geralmente se arrasta por aí e se alimenta de chifres caídos de Corsola, mas quando encontra uma presa, ela apresenta um comportamento incrivelmente agressivo apesar de seu tamanho. Primeiro, se arremessa de cabeça, na esperança de atingir o Pokémon com seu ferrão venenoso principal. Se der certo, ela já é a vencedora: apenas precisa esperar o veneno fazer efeito, para então arrematar sua presa com seus 10 tentáculos espinhosos. Assim que sua futura refeição já está pronta, Mareanie pode comê-la em paz. Se não conseguiu injetar seu veneno, ela tentará fugir ou injetar seu veneno novamente, dependendo de uma variedade de fatores: o tamanho e peso do Pokémon, se ela só errou a mira ou se o seu ferrão realmente não conseguiu penetrar uma carapaça mais dura do que o esperado e provavelmente muitos outros fatores ainda desconhecidos. Contudo, por ter pouca mobilidade, Mareanie raramente conseguirá fugir de um Pokémon que tenha enfurecido, apesar de seus espinhos venenosos já serem motivo suficiente para que outros Pokémon não lhe importunem.

Finalmente, Mareanie compartilha da habilidade da linha evolucionária de Staryu: regeneração. Apesar de não ser tão geral quanto a de Staryu, já que não pode restaurar sua cabeça se a mesma for danificada, Mareanie pode regenerar qualquer membro (geralmente seus tentáculos) de um dia para o outro, o que é útil tanto do ponto de vista ofensivo, pois pode se arremessar sem pensar duas vezes sobre se machucar, quanto defensivo, já que “sacrificar” uma parte de seu corpo para escapar de um predador não é nada demais para esse Pokémon.

Águas Rasas

Dragalge

Dragalge

TMan87: Dragalge parece ser estranhamente grande para espreitar-se em águas rasas, visto que tem quase 2 metros de altura. Contudo, esse Pokémon conseguiu se adaptar ao seu ambiente e agora se move furtivamente nos vários campos de alga espalhados pelo mar. Enquanto sua pré-evolução Skrelp caça mais perto do litoral devido ao seu tamanho menor, Dragalge ainda prefere águas rasas, onde pode se esconder com facilidade no meio da lama e areia, tornando-se basicamente invisível para suas presas.

Dragalge é provavelmente relacionado à família de Horsea, pois têm a mesma posição “vertical” de natação, que é muito incomum entre Pokémon aquáticos, além de seu tipo Dragon quando completamente evoluídos. Não seria muito absurdo especular um ancestral comum, porém a família de Dragalge aparentemente evoluiu voltada para uma abordagem mais ofensiva e predatória, enquanto a de Horsea é mais balanceada e focada em defesa, dado que as escamas venenosas de Seadra têm a função de protegê-lo (pois diz-se que causam “dormência” e às vezes até “desmaio”), enquanto sua mobilidade incrível é melhor vista quando foge de oponentes agressivos ao invés de quando nada em direção à presa. Apesar disso há outro forte candidato a um lugar nessa árvore genealógica: Dhelmise. Por mais incrível que pareça devido à vasta diferença morfológica entre as duas espécies, Dragalge e Dhelmise parecem se dar bem, o que indicaria uma relação simbiótica no passado. Afinal, a camuflagem de algas do primeiro e a aparência do segundo são muito parecidas, sugerindo que essas duas espécies um dia foram uma só. Mesmo com a ausência de evidências que suportam essa relação no momento de escrita desse artigo, é muito possível, que, mais de mil anos atrás, um Dhelmise específico deu à luz, ou talvez transformou-se, num proto-Dragalge usando sua alga de outra maneira do que vemos hoje em dia. Talvez ele até tenha se apoderado de uma Seadra ou Kingdra que passava por lá, fundindo ambos DNAs e criando o primeiro Dragalge.

Hipóteses de lado, Dragalge não seria um predador tão voraz se possuísse apenas sua habilidade de camuflagem. Sua arma mais mortal, usada para matar sua presa instantaneamente, é seu hálito incrivelmente venenoso. Essa toxina foi reportada sendo forte o suficiente para derreter metais, o que é particularmente impressionante e com certeza mataria qualquer Pokémon Water-type de pequeno ou médio porte. Porém, um enigma surgiu: se Dragalge caça perto da zona costeira e sua toxina é tão poderosa assim, por que a maioria desses litorais não são um pântano tóxico onde nadar nele faria você perder uma parte do seu corpo? A resposta se encontra, novamente, na sua evolução adaptativa. Uma toxina tão forte assim não seria útil se ela se mantivesse ativa por tanto tempo depois de matar sua presa; ele correria o risco de matar todos os seres vivos ao seu redor, removendo todas as suas presas e a própria alga que usa para se camuflar com tanta eficiência.

É por isso que as toxinas de Dragalge, apesar de muito potentes, são rapidamente neutralizadas devido a um agente próprio que reage com a água do mar apenas alguns segundos depois de ser expelida, desativando e degradando-as em moléculas inofensivas. Desse jeito, ele pode caçar diversas presas e afastar predadores enquanto mantém impactos ambientais mínimos.

Fundo do Mar

Clawitzer

Clawitzer

TMan87: Clawitzer é um Pokémon muito interessante, pois seu método de caça não ocorre no resto do mundo Pokémon. Ele não precisa de velocidades absurdas, pinças afiadíssimas ou veneno para caçar sua presa. Tudo o que necessita é um pouquinho de camuflagem e sua incrível pinça direita (apesar de alguns serem canhotos). É meio óbvio que esse Pokémon, ao longo do tempo, deixou sua pinça mais e mais poderosa, ao ponto de ser maior que seu próprio corpo!

Clawitzer geralmente se espreita nos leitos do mar, quase sempre em cavidades onde pode observar suas presas. Assim que avista uma, sua pinça entra em ação. Por ser feita basicamente de apenas tecido muscular, ele pode contraí-la a uma velocidade insana. Isso resulta no rápido fechamento de sua pinça, brutalmente comprimindo a água dentro dela e criando uma cavitação. Na bolha de cavitação, a temperatura aumenta drasticamente, enquanto a pressão gera ondas de choque. Não é preciso dizer que qualquer que seja o que estava do outro lado da pinça está no mínimo atordoado, permitindo que Clawitzer facilmente acabe com ele, ou simplesmente morto pela bolha de cavitação.

De fato, ao analisar sua força, foi constatado que a pressão de água era forte o suficiente para desmantelar aço, o que exemplifica o quão devastador é o poder de sua pinça. Por sua vez, Clawitzer não é afetado, pois seu corpo é protegido por uma carapaça muito rígida, mais uma vez produto de sua evolução, já que se machucar enquanto caça não seria uma estratégia das mais eficientes.

Sendo a única característica marcante de Clawitzer sua pinça, ela também tem outros mecanismos. Descobriu-se que sua pinça tem um pequeno buraco atrás. Expelir água através de um orifício tão pequeno forma um fluxo de água enorme e consequentemente o proporciona um grande impulso ao nadar. Isso é muito útil, tanto para fugir rapidamente de um predador, como para se aproximar de uma presa; infelizmente, ele precisa “recarregar” toda vez que for usar esse mecanismo. Por isso, essa técnica é usada primariamente para fugir, porém apenas quando Clawitzer está longe da caverna em que se instalou. Senão, ele pode simplesmente se retrair em sua caverna e se manter longe das garras dos predadores. Por outro lado, pouquíssimos Pokémon menores que Clawitzer ousariam desafiá-lo se não tivessem uma carta na manga para lutar contra o poder bruto de sua pinça. Ele geralmente não é incomodado quando perto de suas moradas.

Finalmente, não é incomum ver Clawitzer e Finneon — e às vezes Lumineon — trabalhando juntos, já que os peixes podem remover os restos de suas refeições e limpar sua pinça, algo que ele não consegue fazer sozinho.

Águas Profundas

Jellicent

Jellicent

Lyd: Mesmo não parecendo, Jellicent são alguns dos Pokémon marinhos mais inteligentes, algo raro de se ver em seus parentes Tentacool e Nihilego. A maioria dos sistemas de Jellicent são relativamente subdesenvolvidos, mas seu sistema nervoso é um dos mais desenvolvidos por aí. Por exemplo, eles geralmente seguem navios e enganam os marinheiros para levarem a embarcação exatamente para onde querem. Eles então afundam o navio, alinhando-o perfeitamente com as outras centenas de navios afundados anteriormente, criando uma fortaleza feita de naufrágios. Várias dessas fortalezas já foram documentadas. Outra coisa que amam fazer é imitar o nosso estilo de vida, já que também podem flutuar no ar e constantemente vão à cidades para observar nossos hábitos e reproduzi-los embaixo d’água. Assim, eles moldam seus corpos para adquirirem características humanas e isso explica em parte a grande diferença na aparência de seus dois gêneros, talvez um pouco exagerados nas imitações. Eles também amam roubar peças de roupa e acessórios encontrados em naufrágios. Jellicent macho amam roubar itens como chapéus e monóculos, enquanto as fêmeas colares, brincos e pulseiras.

Apesar de sua hostilidade com humanos, Jellicent podem se tornar muito importantes para nós no futuro. Veja bem, eles são tecnicamente biologicamente “imortais”. Começam suas vidas como larvas protegidas em seus ovos até estarem prontos para chocarem e se tornarem um Frillish. Após se fortalecer, este irá evoluir para Jellicent, que é quando a mágica acontece: quando expostos a estresse ambiental, doenças ou envelhecimento, eles se revertem para um Frillish novamente, continuando o ciclo para sempre. Eles são o único Pokémon conhecido que tem a capacidade de involuir. Isso permite com que se mantenham jovens e tecnicamente imortais, desde que não sejam predados. Esse método é feito através do processo de transdiferenciação, que muda o tipo de DNA que as células de Jellicent usariam, revertendo-as em células de Frillish. Esse processo também renova os seus telômeros, que protege seu DNA da deterioração, algo exclusivo a esses Pokémon. Estudos recentes estão examinando como Jellicent pode desempenhar esse truque que desafia os limites da biologia. Ainda vamos demorar um tempo para reproduzirmos essa técnica em humanos.

Zona Abissal

Lanturn

Lanturn

TMan87: Enquanto estamos indo para o reino abissal, deixe-me avisá-lo: as regras lá embaixo são muito mais estritas quando comparadas com a maioria do reino animal. Notavelmente, a luz é escassa, se é que está presente, virando a cadeia alimentar de cabeça pra baixo. Sem luz, pouquíssimas plantas conseguem sobreviver, o que significa que herbívoros não têm muito o que comer e, consequentemente, carnívoros também ficam de dieta. Uma das únicas fontes de luz é Lanturn. Veja bem, a luminescência de Lanturn é um caso de simbiose, um assunto que o meu colega Lyd entende muito bem sobre. Ele abriga vários tipos de bactéria dentro de suas orbes luminescentes. Dentro de circunstâncias normais, quando sua luz está “desligada”, por falta de um termo melhor, essas bactérias se alimentam das reservas energéticas do Pokémon, consumindo apenas o que precisam para sobreviver e se multiplicarem. Nesse caso, o metabolismo delas (notavelmente, um metabolismo baseado em carbono) é relativamente similar ao de qualquer outra bactéria, porém bem mais lento. Dessa forma, a população bacteriana nunca atinge um limite crítico e, mesmo que atinja, Lanturn expelirá algumas delas para fora usando um conjunto especial de músculos. Por que esse limite não pode ser atingido? Porque isso ativaria a bioluminescência. Não se preocupe, vou explicar: quando Lanturn injeta um fluido corporal especial dentro das orbes, percebe-se que o metabolismo bacteriano acelera bastante e taxas de reprodução bacteriana crescem rapidamente. Uma vez que essa população de bactérias atinge tal limite crítico, seus metabolismos mudam e elas começam a produzir luciferina, o que faz as orbes de Lanturn brilharem. Especula-se que o fluido corporal de Lanturn é um líquido rico em nutrientes, como glicogênio, usado para ativar as vias anabólicas da bactéria e, assim, a reprodução e multiplicação.

É claro que também há um lado positivo para Lanturn: enquanto o Pokémon não é cruel e às vezes usa sua luz de maneira amigável, ela é usada primeiramente como uma ferramenta de caça. Como dito, luz é escassa na zona abissal, o que significa que a maioria dos Pokémon de lá não tem olhos (veja Relicanth) ou tem olhos adaptados para enxergar no escuro. Para esses tipos de olhos, até mesmo uma quantidade moderada de luz é absolutamente cegante e a de Lanturn pode ser vista a quase cinco quilômetros abaixo da superfície! Antes de ir muito a fundo em como ele preda outros Pokémon, precisamos falar sobre outra de suas ferramentas, o eletromagnetismo. Por ser parte Electric-type, ele tem controle total sob seu eletromagnetismo, o que é uma mão na roda num mundo onde você não consegue enxergar ao seu redor. Sentir as ondas eletromagnéticas emitidas por outras criaturas é uma das chaves para predar e evitar predadores, já que toda onda é diferente e Lanturn é muito eficiente em discernir qual Pokémon emite qual onda. De fato, todas as formas de vida emitem um campo eletromagnético formado por vários impulsos nervosos, que pode ser interceptado e desencriptado. Essas ondas são recebidas por uma pequena parte do cérebro de Lanturn e então são convertidas em imagens, parecido com uma das funções da ecolocalização usada por Golbat e outros Pokémon. Depois disso, ele “vê” uma representação 3D de sua localização imediata, completa com as formas de vida ao seu redor.

Então, o dia de caça de Lanturn funciona assim: ele nada por aí, acende sua luz tentando encontrar presas e evitar predadores. Quando encontra uma possível vítima, ele se aproxima o mais furtivamente possível, uma tarefa facilitada pelo referido sentido eletromagnético. Quando ele se aproxima o suficiente, ele injeta seu fluido corporal especial para dentro de suas orbes, levando a crescimento bacteriano acelerado.

As bactérias dentro das orbes atingem o limite crítico e começam a emitir luz. Não se esqueça que o processo todo de iluminação demora apenas alguns milissegundos! Já que a presa vive numa zona abissal, ela não está acostumada com uma luz tão forte e acaba ficando atordoada, tentando processar essa sobrecarga sensorial. Isso deixa Lanturn com duas opções para terminar seu trabalho: ou a presa é pequena o suficiente para ser engolida por inteiro (Lanturn pode distender sua boca e estômago se necessário, concedendo-lhe a habilidade de engolir presas surpreendentemente grandes), ou, se ela realmente for grande demais, ele pode causar um choque mortal com uma descarga elétrica. Em ambos os casos, a caça foi bem-sucedida.

Conclusão

Lyd:
Espero que este artigo tenha fornecido uma perspectiva diferente sobre o ambiente aquático do mundo Pokémon. Em virtude da nossa espécie viver na terra, não vemos esses Pokémon aquáticos com a mesma frequência que seus equivalentes terrestres, então vários de seus comportamentos podem ser uma surpresa. E, sinceramente, em qualquer lugar, desde a costa até as profundezas do mar, existem tantos Pokémon únicos por aí!

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